domingo, janeiro 30, 2005

Um belo domingo!

Acordei mal e acabo bem. Como disse de manhã, estar feliz é um exercício! É preciso esforço. Uma aula de yoga a dois, um belo almoço (um caril de legumes marado com arroz basmati) na companhia da nossa querida guru Cris e depois uma ida a casa de mais uns amigos onde se passou uma tarde na conversa sem dar pelo tempo a passar. Uma semi-soneca sentada ao sol de Janeiro a sonhar com o sol de verão. Umas belas gargalhadas nem sei porquê! E chegar a casa e dar a injecção e sentar-me aqui no comp a escrever e a ouvir uma musiquinha agradável a sorrir, mesmo sabendo que amanhã é segunda! Coisas simples, que me fazem agradecer todos os dias estar viva.
P.S. Estou com saudades das minhas sobrinhas! Vou fazer festas à gata a ver se passa. Ehehehe...

Porque...

Porque ficam todos calados quando o assunto é infertilidade...
quando os cálculos são que pelo menos 20% dos casais sofrem deste problema ... e quando se sabe que o ser humano não é um bom reprodutor! Porquê esconder? Porquê a vergonha?!!!
Porque se calam as mulheres que andam meses e anos a tentar engravidar! Porque se lamentam de tudo e de nada, falam de coisas sem interesse e ficam tão surprendidos quando digo que não posso ter filhos e ando a fazer tratamentos! Sinceramente, caralho!

Começa um novo ciclo!

O período veio na 6ª à tarde. Tarde demais para ir ao médico. Ficou para ontem de manhã!
O Rui foi comigo e em 2 minutos fiquei a saber que o "quisto funcional" que tinha aparecido no ovário direito tinha desaparecido e estava tudo normal. O que significa que começava o tratamento.
Estive entretida durante o dia e nem me lembrei da hora...lembrou o Rui. Devem tomar-se as injecções por volta das 8 da noite! E parecia que era a primeira vez... nem é a picada que isso a mim nem me afecta nada...é o recomeço...o relembrar falhanços...é o medo a tomar conta de mim.
O Rui apercebeu-se do meu estado de nervos e encheu a seringa e leu as instruções (como se eu já não soubesse...mas enfim ...é sempre bom reler e não fazer asneiras). E nuns segundos comecei de novo a enfiar a droga! Eu não queria, mas é assim que a vejo. Estou a enfiar um cocktail de drogas dentro de mim. Sabe-se lá que mal me fazem. Mas já não há volta atrás. Isto vai até ao fim. Decidi. Mas é a última vez.
À noite, antes de ir para a cama estava muito nervosa. A minha mente precisa de se habituar. Por isso estive a meditar em frente a uma vela e quando fui para a cama adormeci logo. Dormi bem e do pouco que me lembro nem sonhei com nada disto...mas agora de manhã estou outra vez muito tensa e cheia de medo. É medo do falhanço, medo das consequências, sei lá...é um turbilhão dentro de mim!
E assim sendo, só há uma solução. Ocupar-me, fazer coisas agradáveis, tentar rir e pensar positivo. E isso é um exercício. Por isso e para começar vou fazer uma prática de yoga.
Namaste.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Quase...

E está quase a começar de novo...
Era suposto o período ter vindo ontem, mas a natureza humana é assim...e tenho que aguentar até que decida realmente vir! Só depois posso ir ao médico fazer uma ecografia para ver se está tudo bem e iniciar novo tratamento. E queria ir lá hoje, não amanhã sábado! Lá se vai a minha manhã de cama ou seja lá o que for que me apetece fazer ao sábado! Raios. Parece de propósito!!! Entretanto tou um bocado pró insuportável...tensa, com dores nos rins e de cabeça. Da-se para isto de ser mulher!
Mas tenho que me contrariar e por isso decidi que enquanto andar a fazer esta porra sou obrigada a estar bonita. Eheheh...para levantar a moral.


segunda-feira, janeiro 17, 2005

A próxima FIV

Segundo os meus cálculos, o próximo tratamento deve começar em 27 de Janeiro (1ª dia do ciclo). Dou comigo de vez em quando a pensar nisso, estremeço e tenho vontade de desistir ainda antes de começar. Começo a ver agulhas e eu na cama a repousar e os médicos... e a espera. Tento logo mudar o pensamento ... e tenho conseguido. Mas ando a dormir mal.
Entretanto, adoptámos uma gatinha, que me fez ver que o amor é incondicional e que eu daria certamente uma boa mãe. Ela faz-me muita companhia e vai concerteza ajudar-me nos dias que estiver em repouso.
Além disso, resolvi fazer acupunctura, algo bastante normal em países como Inglaterra, onde é ponto assente que aumenta as probabilidades de sucesso nos tratamentos de FIV. Cá não se acredita em nada a não ser na medicina convencional, mas eu decidi seguir o meu instinto e tenho gostado.

O que mudou (I)

Neste tempo que dura desde o conhecimento da minha infertilidade tive que mudar as minhas crenças e reaprender a viver. Primeiro era só desespero e frustração... depois recuperar de cada vez que me ia abaixo ... e só depois comecei a aceitar. Para começar aceitar o meu corpo de mulher, que é lindo e que tem que continuar a ser cuidado. Aceitar que se pode e deve ser feliz com ou sem filhos. Aceitar que há outros caminhos. E viver intensamente cada dia ... cada experiência como única, mesmo os tratamentos ... só possíveis graças ao avanço da ciência e que poucos conhecem tão bem como as mulheres como eu. E nunca mas nunca perder o senso de humor nem deixar de sorrir (é claro que também choro e sofro ... não sou de ferro).

A história...

Já nem sei quando foi ... andava há quase um ano a tentar engravidar e resolvi que era tempo de ir à ginecologista. Análises várias, a mim e ao cara metade, tava tudo bem, ecografias... espermograma ... tudo bem ... achava que era azar! Infertilidade era uma palavra desconhecida! Passam os meses ... a médica manda-me fazer uma Histerosalpingografia (metem um líquido no útero e tiram umas "fotos" a avaliar como ele passa nas trompas), mas o exame era tão agradável que desmaiei e teve que ser repetido, uns meses depois ... agora no hospital. Dessa vez levei o maridão não fosse eu tiltar de novo... e lá fiz o exame (desta vez só vomitei!) . No fim estava zonza mas deu para olhar para o écran e ver que o líquido só passava de um lado. A médica deve ter tido pena de mim e na altura não disse nada... mas na consulta seguinte foi sucinta. Uma trompa estava completamente obstruída e a outra era filiforme. Lindo... eu nem sabia para que serviam as trompas! Nem tinha consciência delas em mim e agora tramavam-me. Deu-me a indicação de um médico especialista no Porto... e disse que eles me indicavam o caminho a seguir.
Aí tive alguma sorte. Numa clínica onde se esperam meses por uma vaga...fui tão chata que consegui consulta para o dia seguinte e descobri que ia ter que fazer fertilização in vitro (FIV) caso quisesse tentar ter filhos. E que cada tratamento eram cerca de 600 contos. Choro... desepero e esperança! O maridão tava comigo em tudo. Nunca senti que me rejeitasse. O casamento saiu-se bem.
Mais análises, demoradas, caras, mais exames esquisitos e muito dinheiro gasto. Em Setembro de 2003 ... muito confiante lá vou eu fazer a minha primeira tentativa de FIV. Tenho que tomar injecções todos os dias ... e dadas as circunstâncias o melhor é ser eu a dá-las ... ok. Nunca me achei capaz. Mas fui. Ecografias regulares... os folículos crescem bem, muitos.... Fazem-me a punção (isto é aspiram os ditos cujos) e obtêm 18 (!) ovócitos. O cara metade dá o esperma e fertilizam-nos em laboratório. Quatro dias depois temos 12 embriões, dos quais 2 são-me transferidos e fico 4 dias de molho, quietinha à espera que eles se aconcheguem. Depois são cerca de 10 dias...10 longos e dolorosos dias até ao exame. Entretanto começo a ter perdas. Choro muito. Chateio os que amo. Depois o choque. Não estou grávida. Demorei muito a recompor-me! Achava que não prestava para nada. Estava vazia e minha vida tinha perdido o sentido.
Mas a esperança é a última a morrer e já fiz mais duas tentativas, uma das quais com embriões crioconservados. E estamos em Janeiro de 2005 e vou começar em breve mais uma tentativa daquela que (digo eu) será a última. Entretanto cresci... mudei as minhas crenças e acima de tudo tornei-me um ser humano melhor, mais tolerante. E já não faço pesquisas na Net. Não quero saber. Aceito.

O início...

Quando pensei neste blog a intenção era ajudar-me. Escapar por uns momentos, desabafar sem chatear ninguém. Entretanto e depois de mais algumas desilusões e descobertas achei que era melhor pensá-lo para ajudar outras pessoas...
Quando descobri que era infértil pesquisei tudo o que pude na Net...mas em português de Portugal não descobri nada de interessante... as dúvidas eram tantas, os medos, as incertezas... que dava comigo a toda a hora em sites de clínicas de infertilidade americanas à procura de luz! Agora já não quero saber nada... sei o que preciso e descobri que a grande descoberta a fazer é interior...
Seja!